Os sabonetes fabricados no Brasil estão ganhando espaço no mercado internacional. Segundo a Abihpec, é o segundo item mais exportado desde 2015.
São Paulo – O sabonete em barra se tornou um hábito no banho do brasileiro apenas entre os anos 1940 e 1950. Isso graças a empresas estrangeiras, principalmente norte-americanas, que aterrissavam no Brasil e investiam pesado em marketing – e em produtos mais baratos e acessíveis. Antes, o banho era de água e, quiçá, acompanhado de um pedaço de sabão neutro ou de coco. Até então, sabonete era artigo de luxo, privilégio da elite. Décadas depois, é o Brasil quem exporta sabonetes para o mundo, levando variedade de marca, preço, tamanho, cheiro e, em muitos casos, um toque de brasilidade.
Segundo os dados divulgados no início do ano pela Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), o sabonete representou, em 2022, 19% das exportações dos itens do setor como um todo. “Foram US$ 148,1 milhões em sabonetes exportados, sendo 83% (US$ 122,5 milhões) para Argentina, Chile, Peru, Colômbia, Paraguai, Venezuela, México e Uruguai”, conta João Carlos Basilio, presidente executivo da Abihpec. A maior parte ainda é de sabonete em barra (67%), mas o sabonete líquido vem crescendo a cada ano.
O setor como um todo teve um crescimento expressivo nas vendas externas: produtos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos somaram um crescimento de 10,9% na exportação no ano passado, chegando a US$ 776,5 milhões, contra US$ 700 milhões em 2021. A categoria mais vendida é a de produtos para cabelos. Sabonete vem em segundo lugar desde 2015. Além dos oito países de destino citados acima, todos latino-americanos, aparecem na lista com destaque países como Holanda e Emirados Árabes Unidos.
Segundo Basilio, a despeito da pandemia e da crise econômica, os desafios para exportar já foram maiores. “Evoluímos muito nos últimos anos”, diz. “Se olharmos em retrospecto, ampliamos cada vez mais o número de países de destino para as exportações de nosso setor. Em nosso projeto de internacionalização setorial, o Beautycare Brazil, realizado em parceria com a ApexBrasil, temos resultados positivos de forma progressiva, assim como aumento contínuo da participação de empresas nas principais feiras internacionais”. A ApexBrasil é a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos.
Ainda há entraves e barreiras a serem superadas, como os custos logísticos e políticas focadas no comércio exterior. “Temos também que evoluir na necessidade de regulamentação do uso sustentável da biodiversidade brasileira, que tem o potencial de ampliação e aceleração da competitividade dos nossos produtos mundo afora”, complementa Basilio.
No mercado interno, os desafios também são grandes. Se por um lado o sabonete foi um grande aliado no combate à covid-19, por outro, uma camada mais pobre da população reduziu o consumo de sabonete em barra, que teve uma alta considerável no preço nos últimos anos. Já a parcela com tíquete médio mais alto, adotou a versão líquida durante a pandemia por ser mais prático e seguro.
Basilio lembra ainda que, hoje, o mercado é imenso e diverso, com nichos para públicos variados. Há produtos hidratantes, antibactericidas, diversidade de fragrâncias, de formatos e embalagens, versões em óleo, creme e com ingredientes da biodiversidade brasileira.
A cara do Brasil
Biodiversidade é um tema caro ao setor. Marcas que exportam aromas originais do Brasil ganham cada vez mais espaço. Uma empresa que soube captar o gosto do cliente internacional, sem perder o sotaque carioca, foi a tradicional Granado, que se consolidou com seu sabonete de glicerina. Criada em 1870, foi comprada nos anos 2000 pelo inglês Christopher Freeman, que depois incorporou a Phebo ao catálogo. Em 2013, em uma parceria com a rede francesa Le Bon Marché, começaram o processo de internacionalização. Três anos depois, venderam uma parte da empresa para a espanhola Le Puig, aumentando a presença em solo europeu e, dali, para outros países.
Mais jovem que a Granado, e mesmo assim com vinte anos de existência, a baiana Avatim também começa a experimentar a clientela estrangeira. Com previsão de ter 235 franquias dentro do Brasil até o final do ano, a empresa inaugurou em 2022 um showroom em Cascais, Portugal, e já exporta para a Europa. Com um portfólio perfumado de brasilidades como andiroba, castanha e cupuaçu, a Avatim faz sucesso como um presente que é “a cara do Brasil”. Todos os produtos são feitos na fábrica em Ilhéus, no sul da Bahia.
“Hoje, temos dois tipos de sabonetes, em barra e em líquido, com mais de 20 fragrâncias diferentes”, diz Miro Menezes, gerente comercial da Avatim, sendo que o produto representa 16% das vendas totais. “Um excelente número diante da variedade do nosso portfólio, que inclui desde linha para ambientes, como difusores, até produtos para o corpo, como esfoliante”.
Enquanto buscam aumentar a capilaridade nas principais capitais e interior do Brasil, a empresa quer diversificar as linhas de produtos (focando em itens sustentáveis) e aumentar a presença no digital. “Além disso, queremos entender melhor os hábitos de consumo dos clientes nacionais e internacionais”.
Apesar dos desafios internos e externos, a Abihpec está confiante de que a curva será cada vez mais crescente. “O setor de HPPC já provou, nos últimos três anos, que é essencial e resiliente, o que resultou na retomada do superávit da balança comercial que vinha deficitária ao longo da década anterior. Atingir uma corrente de comércio internacional que ultrapassa a casa de bilhão de dólares é resultado de muito esforço da indústria de HPPC exportadora”, celebra.
Reportagem de Débora Rubin, especial para a ANBA
Fonte: https://anba.com.br/banho-a-brasileira/
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